Apresentação
Quem acompanha o Festival de Curtas há algum tempo sabe: não existe formato mais versátil e ágil para retratar o que acontece no mundo, aqui e agora.
Ao longo desses 30 anos ininterruptos de realização – que comemoramos efusivamente neste ano de tantas notícias preocupantes para a cultura brasileira – cinema e vídeo se fundiram no audiovisual, e som e vídeo cada vez mais transbordam da tela para envolver o espectador em experiências intensas e imersivas.
A evolução também garantiu uma maior representatividade, em frente e atrás das câmeras – que hoje são de todos os tamanhos, e acessíveis a um número muito maior de realizadores. Muito mais mulheres assinam a direção dos curtas, no Brasil e no mundo, e negros e indígenas também garantem cada vez mais sua presença indispensável no universo das imagens em movimento, como realizadores e realizadoras, como atores e como atrizes, e em todas as equipes de produção. As representações de gênero também não faltam e se antes mereciam mostras específicas que já procuravam abrir caminho para essas vozes que exigiam seu espaço, hoje estão integradas à programação como um todo.
A evolução da tecnologia não aconteceu só na tela, e também nos beneficiamos muito disso. Quando começamos, o visionamento era feito a partir do envio de fitas VHS pelo Correio, das mais diversas partes do mundo. As inscrições vinham por carta e, pouco depois, surgiu o fax, que nos permitia uma comunicação mais direta. Se antes exibíamos quase que a totalidade dos filmes que recebíamos, hoje temos acesso – graças à internet e ao streaming de vídeo – a cerca de 3,2 mil curtas internacionais inscritos por ano, e em torno de 700 brasileiros.
A tecnologia sozinha, porém, não garante a qualidade da programação que apresentamos todos os anos, gratuitamente, em diversas salas espalhadas pela cidade de São Paulo. Para isso, é necessário o trabalho de uma equipe de mais de 100 pessoas, entre curadores, produtores, monitores e técnicos das mais diversas naturezas. E tudo se viabiliza graças aos laços de parceria que nos unem a empresas e poder público, marca do Festival também durante toda a sua existência. Aliado a tudo isso está o princípio maior que sempre norteou nosso trabalho: a liberdade. Liberdade de ir e vir, e frequentar alguns dos maiores festivais do mundo, promovendo intercâmbios e conhecendo em primeira mão os melhores filmes do formato. E principalmente a liberdade de escolha, pautada também pela liberdade de concretização de projetos de todos os vieses e matrizes.
As fronteiras da arte são cada vez mais tênues. É a arte que nos revela a beleza, que nos traduz o outro, que nos aproxima do humano. Contamos com os realizadores, os parceiros e a equipe para dar continuidade ao nosso trabalho e ampliar cada vez mais os limites das nossas telas, garantindo um espaço de encontros e trocas que complementa e humaniza tudo que a tecnologia nos traz em termos virtuais.
Que possamos celebrar os encontros e a arte por muitos anos!
Zita Carvalhosa
Diretora do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo