Mostra Latino Americana

A seleção latino-americana do Festival este ano destaca, em seus 24 filmes selecionados, uma variedade de temas e experimentações que oferecem uma janela preciosa da cultura do continente ao público brasileiro.

As identidades transnacionais – tema cada vez mais recorrente no mundo atual – alimentam filmes que investigam as diferentes relações entre povos, culturas e lugares: noções de pertencimento e identificação emergem de histórias como a sátira irônica entre uma tribo colombiana e o turista europeu, o drama da adolescente chilena de origem coreana em batalha silenciosa com seu pai tradicionalista ou a imersão introspectiva da realizadora moçambicana que reencontra sua África no povo e na cultura cubanos. Com a mesma nota reflexiva, velhas heranças são colocadas na balança e revistas sob novo prisma, estendendo-se o legado das décadas castristas até os velhos mitos solares das civilizações mesoamericanas.

As relações de trabalho marcam presença: as experiências de um professor peruano, de um funcionário de hotel em Oaxaca e de um coletivo de trabalhadores argentinos expõem perigos, constrangimento e dramas tensos, em uma época complicada para o trabalhador latino-americano.

O corpo como instrumento de afirmação e resistência irrompe em diversos trabalhos ficcionais e experimentais da Colômbia, Venezuela, México e Cuba. As vivências dos corpos frágeis e marginalizados, particularmente das experiências negras e indígenas, desvela um território com um passado ainda encoberto, em luta constante pela dignidade de sua população. Muitas dessas lutas, aliás, são femininas: seguindo uma tendência perene do curta-metragem latino-americano, o protagonismo das mulheres encabeça um esforço consciente do cinema da região de recuperar a autonomia e direito à autodeterminação de seus povos. Alma, Aurora, Lucía, Elena, são nomes de filmes nesta mostra, mas também são nomes de batalhas particulares, corajosas e muito próximas do cotidiano de nós, brasileiros.